quarta-feira, 11 de maio de 2011

Uma aula com o Mestre Roberto Leitão.

Mestre Roberto Leitão.

Amigos leitores e aficionados, nossa batalha para aumentar a eficiência ao nos confrontar com adversários fortes, no sentido universal da palavra, a medida que o tempo vai passando, vai evidentemente ficando cada vez mais difícil. Não há quem queira ficar estagnado. Todo mundo que realmente se liga na Luta quer evoluir, ser bem sucedido e se sentir um vencedor.

A procura de artifícios que possam melhorar aquela situação para mim é uma tarefa permanente e árdua, especialmente pela corrosão causada em mim inexoravelmente pelo tempo, afinal estou a beira do ¾ de século...

Assim, enquanto Deus me permitir, jamais vou desistir desta procura. Um destes artifícios é o que chamo de “Troca de unidade motora”, que nada mais é do que observar um dos mais importantes Princípios Básicos da Luta, que vivo difundindo em todo mundo, que trata especificamente da manutenção do equilíbrio de forças e que deve ser encarada como uma ferramenta de rotina. Como exemplo, lembro que faço o possível e o impossível para não confrontar o braço mais forte do meu adversário com meu braço mais fraco, ou então um braço meu contra dois dele, ou ainda uma alavanca pequena contra uma grande e assim por diante.

Para enfrentar o braço dele preciso usar a minha musculatura lombar ou ainda ter a meu alcance o auxilio das pernas. Entretanto, esta sistemática tem suas limitações, o “cenário” dos dois corpos que se enfrentam tem que ser montado para permitir a aplicação dela de uma maneira eficiente. Assim não é tão simples quanto se pode pensar, pois demanda um conhecimento efetivo das possibilidades, inclusive do desenvolvimento da posição e principalmente do resultado prático. O lado positivo é que este equilíbrio (ou desequilíbrio) também pode ser alterado não só pela potencia das unidades motoras em ação (braços, pernas, lombar, etc), mas também pela eficiência das bio-alavancas envolvidas (posições relativas dos braços, apoios, etc). Daí passei a pesquisar todo tipo de vantagem que eu pudesse desfrutar, (mesmo que pequena) levando a “ferro e fogo” a regra de nunca ficar na inferioridade física na disputa das unidades motoras, pois em 90% dos casos meus amigos adversários eram bem mais fortes... É muito importante que nos lembremos que existem alguns pontos que podem nos facilitar, como usar os braços mais como um “tirante” ou um cabo que esticado vai mover o que necessário for quando acionado pelas perna e lombar. Se você está habituado a trabalhar com pesos e tiver por volta de 80 kg de peso, uma chamada “rosca direta“ (levantar os halteres na frente do corpo com a força dos bíceps) com peso de 60kg é bastante pesado. Empurrar o dobro deste peso com as pernas (musculatura da coxa) como um “leg-press” (máquina para fazer exercício com as pernas) é bastante viável. Esta é a troca que sempre sonhamos, então é só procurar e adaptar. Outra regra simples é sempre que precisar usar um braço para unidade motora (o que vai “fornecer a força) ou para uma resistência passiva (o que vai apenas contrariar o movimento que o adversário tenta fazer), procurar antes de mais nada colar o braço fortemente ao tórax . Quem atua, quem se mexe é o tórax ... e o braço vai junto! É só se concentrar em fazer o máximo de força para manter o braço colado. Entre outros pequenos truques (“recursos ocultos” como chama nosso amigo Prof. Eric Lobão), que venho procurando explorar estão :

1 - Vantagem Biomecânica – Um arranjo biomecânico, ou seja, uma posição de uma articulação em relação a outra, durante a luta, traz vantagens ou desvantagens mecânicas para o movimento que se deseja. Por exemplo, quando alguém está deitado na mesa flexora (um aparelho de musculação muito utilizado nas academias que vocês certamente conhecem, que faz a flexão dos joelhos) e se exercitando ele percebe que cansou muito a musculatura, achando que não vai dar para completar a série de repetições, ele automaticamente faz uma curvatura exagerada da coluna, e na nova posição da cintura (como se diz “roubando”) a panturrilha colabora, atua mais efetivamente e ele consegue finalmente terminar as repetições. Especificamente para o objetivo deste exercício não foi bom, mas por outro lado pelo menos conseguiu concluir que as vezes importa muito.

Isto acontece em muitos sistemas de gestos motores específicos (encaixando ou defendendo uma posição), onde a mudança dos braços de alavanca, dos bio-apoios, etc, de acordo com a arquitetura muscular, origens e inserções dos músculos, trazem vantagens ou desvantagens para certos movimentos.

Um exemplo claro na Luta é a pegada usual de imobilização lateral do Judô (Honkesagatame), onde existe uma grande diferença entre ficar (falando de quem está imobilizado) com a posição da cabeça com o queixo encostado no peito, olhando para próprio o umbigo (posição A) ou então a alternativa de olhar para o ombro (posição B). O diferencial é a força de um dos braços (o que está dominado). É sensacional e de uma grandeza muito fácil de observar, pois chega de 15% a 20% a diferença da força nas duas posições. Impedir que o adversário empurre o punho de quem está imobilizado para baixo causando forte dor pela torção automaticamente levantando nosso cotovelo é quase impossível se estivermos na posição B. O braço de quem está por baixo fica incrivelmente fraco naquele movimento.

Experimente e não deixe de testar!

2 - Pontos Álgicos - A compressão na menor área possível (máxima pressão), feita em pontos especiais bem definidos leva o adversário a fazer movimentos de reação (por reflexo ou dor) que podem facilitar bastante nossa missão de mudar de posição com o objetivo de escapar de uma situação, atacar ou simplesmente distrair nosso oponente. Assim, por exemplo, para nos libertar da “meia guarda” (uma de nossas pernas está presa com uma tesoura com as duas pernas do adversário), basta comprimir com força usando o seu calcanhar no último quarto superior da coxa (20 a 30 cm abaixo da cintura). Seria como um “tostão” ou “paulistinha” sem fazer um impacto de pancada, só comprimindo com o calcanhar. A dor é muito grande.

Uma compressão nas canelas ou nas costelas com o cotovelo também podem provocar dores muito fortes. Nestes casos é sempre importante que nosso “instrumento de compressão” seja resistente e não nos cause incomodo, porque lembrando que “a cada ação corresponde uma reação igual e contrária”, diz a física. Agora um alerta importante: Não é comprimir por comprimir, ou para machucar. O truque é dar sempre a oportunidade ao adversário sair do incomodo sem machucá-lo. Só que o caminho que o induzimos a fazer é o que queremos, ou seja, o que nos ajuda.

3 - Super concentração de força - Quando numa determinada oportunidade durante a luta analisamos e sentimos que necessitaríamos empregar uma parcela muito grande de nossa força para nos livrar de uma posição incomoda ou mesmo concluir um ataque que julgamos eficiente, fazer aquela força e não atingir ao resultado desejado, pode ser danoso a nossa atuação com um todo. Surgem então as perguntas: Então eu não deveria arriscar? Será que estou perdendo uma oportunidade que não deveria perder?

É fácil concluir que para aqueles praticantes já na “descendente“, com suas condições físicas já um pouco debilitadas, o problema é sério. Assim o momento também tem que ser analisado. Fim de luta, cansaço, animo combalido, etc, tudo são fatores que pesam muito.

Tudo isto, então, nos leva a tomar uma atitude que reduz muito nossa atuação instantânea, e pior, pensando que estamos fazendo sempre o mais correto.

É comum que tentemos, como se diz, “tomar o mingau pelas beiradinhas”, com certo receio de algo falhar e nos desgastar demasiadamente.

É preciso então desenvolver uma técnica que aumente substancialmente a força inicial, mesmo que seja por um instante, como se fosse um “arranque” do levantamento de peso Olímpico. Toda força concentrada num espaço de tempo mínimo, sem dar tempo de reação ao adversário e iniciando o rompimento da “blindagem” criada por ele (braços juntos, braços colados ao corpo , braço protegido em baixo do corpo, etc). Esta técnica para tornar nossa força mais atuante, então envolve: 1 = correção máxima da posição (fez... não dá para consertar, tem que pensar bem antes de fazer), 2 = concentração total, 3 = respiração correta (não é apnéia, ficando sem respirar), é muito importante que a força máxima deva ser feita com a expiração) e finalmente 4 = a atuação propriamente dita (direção correta, corpo solidário, bloqueio a reação do adversário, explosão e coordenação dos movimentos).

É impressionante como ultrapassamos nossas expectativas. Só que como quase tudo no mundo da Luta temos que treinar, e se não funcionou como esperávamos, analisar, corrigir e tentar de novo em outra oportunidade. Paralelamente temos que dirigir nossa concentração para o que interessa, como no exemplo: Se precisamos abrir um vidro de conserva, toda nossa força precisa estar dirigida naquele instante para as mãos e dedos, para que não escorreguem. Aumentar a força normal (perpendicular) para aumentar a força de atrito mão x tampa, mão x vidro. A rotação da tampa será provida com certa facilidade pela grande alavanca do braço, ajudado pelo tórax, etc, mas se escorregar não haverá a transmissão do esforço necessário. Assim, a coordenação para que o máximo de força nas mãos seja feito exatamente no momento da rotação é tudo que se precisa.

Concluindo, temos que dar crédito a nossa perspicácia e criatividade.

Temos também que acreditar que há muitos caminhos que ainda não foram trilhados por nós. Nestes caminhos podem estar as soluções para alguns problemas nossos.

Se queremos desenvolver nossa eficiência na Luta, precisamos melhorar nosso conhecimento e nossa capacidade de analise e julgamento. Não podemos abrir mão da compreensão. Na LUTA, quem não compreende e faz, quase sempre faz o que não tem que fazer, e quase sempre paga por isto.

“O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no DICIONÁRIO”.

Albert Einstein

Numa próxima oportunidade continuarei o assunto.

Até breve e Bons Treinos

Roberto Leitão


Fonte: www.portaldovt.com.br

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